quinta-feira, 24 de maio de 2012

resumo de aula 9 de maio

Então, o que fizemos foi o caminho oposto daquele que o pessoal costuma seguir para musicalizar; em vez de ficar atormentando os pobrezinhos dos alunos, criamos primeiro uma pulsação fundamental, simples, constante e rápida, e dentro desta estrutura, que podemos armar, organizar em fórmulas de acentuação pares ou ímpares, é sobre esta estrutura que colocamos, que encaixamos, que, enfim, executamos nossa entonação. O de sempre com batatas, o ritmo antes, sempre, e sempre pensando em padrões de acentuação, e a entonação construída, sempre, sobre os pilares da escala, exercitando a todo o momento o acesso randômico entre quaisquer graus de uma escala dada qualquer. Começamos com muitas pulsações em cada nota, e subimos e descemos a escala, a cada volta deixando um pouco mais rápido, um tantinho a menos de espaço a cada volta, até que ao fim acontece aquele fenômeno que reconheço, impressiona sempre, todos com um ataque rápido, leve e o volume do grupo alto e claro, afinado e estável. Sempre é bom deixar claro que não tem mistério algum, apenas um entendimento do ritmo como organizador do discurso musical – organizador aqui enquanto modelo e padronizador de estudo – cronologicamente, fenomenologicamente anterior ao da entonação e estruturalmente mais constante; trocamos de notas e mesmo de tonalidade com muito mais frequência do que trocamos de ritmo ou andamento, e por sua própria natureza, o ritmo prescinde de exatidão a mais possível, dado que podemos fazer constantes ajustes enquanto o executamos. A entonação por sua vez varia o tempo todo, salvo notas pedais longas (o piano tem um pedalzinho que quando pisado faz o som das teclas durar um tempão. Quando não pisamos o pedal este, o som para assim que tiramos o dedo da tecla, daí quando temos uma nota beeem longa dizemos que é nota pedal, porque dura muitissíssimo mais que o normal). Qualquer estudo de música que coloque a afinação antes do ritmo – entre os estudantes de violino esse erro é infelizmente quase uma praga -  invariavelmente fica com uma pulsação que parece toda retalhada, cheia de pequenos atrasos e ataques duros, mostrando todas as emendas que o musicista não conseguiu aprender corretamente e ficou sem a emenda rítmica que dá ao nosso ouvido a fluência agradável tanto gostamos a reconhecemos nos grandes artistas que ouvimos. De resto pessoal, praticar as combinações propostas em aula e aproveitar  todo tempo livre para praticar as escalinhas nos ritmozinhos que o tio Sérgio ensina.

Resumo de aula 2 de maio


Resumo de aula 2 de maio
    Vamos pegar lá de longe, de semanas e semanas passadas, e falar sobre as claves. Como vimos em aula, as claves são os sinais que aparecem bem no começo de cada pentagrama. Eles são o primeiro símbolo que lemos por uma razão muito importante; a clave é que determina o nome das notas em cada uma das cinco linhas do pentagrama, e toda a nossa leitura tonal depende antes de tudo de sabermos onde estão as notas que vamos ler. Por que existem claves diferentes e não apenas uma? Não seria mais fácil que todos os instrumentos lessem sempre a mesma clave, com todo mundo feliz da vida? Sim e não, pra ser honesto com vocês. Sim por que realmente, seria uma coisa a menos para se ocupar, mas mesmo isso, de ser ou não preciso aprender mais de uma clave, é uma questão que quando pensada seriamente deixa de ter importância, porque pensando bem, aprendermos a clave de Sol, e a de Fá e a de Do não demora mais do que uns dois dias de prática, principalmente se estudarmos as três desde o começo, portanto essa história de não sei ler na de sol, ou não sei bem a de dó, no fundo é desculpa de aluno sem curiosidade, falha tremenda no estudo da música. E não, não é mais fácil uma clave apenas para todos os instrumentos porque dessa maneira haveria linhas suplementares, aquelas que desenhamos os risquinhos, quando acaba os pentagrama. Vou explicar; se pensarmos na clave de sol são 5 linhas e 4 espaços, e na primeira linha é a nota mi, certo? O mi seguinte, indo para o agudo, é o mi do último espaço, ainda dentro do pentagrama, estás acompanhando?, pois é, tem o fá na última linha ainda, mas mesmo juntando ele, podemos dizer que DENTRO do pentagrama e partindo de mi, temos uma 8ª e mais uma segunda. Quer dizer, é uma gama de notas muito curta, muito pequena, com apenas uma 8ª, o que limita muito compor, escrever, calcular música. Os instrumentos musicais têm mais de uma 8ª – se pensarmos no piano, ele tem 7! – e literalmente, a soma de todas as notas que estes instrumentos executam não cabem dentro de um pentagrama. Por isso é que existem as linhas suplementares onde, quando preciso, meio que aumentamos o tamanho da pauta, para cima ou para baixo. O Problema é que lá nos tempos de antigamente não existia fotocópia e o troço era feito na mão grande mesmo. Tinha uns caras que viviam só de copiar música. É natural então pensarmos que ao escrever eles não gastassem tempo a toa, né? Então criar uma clave onde as notas mais centrais do instrumento fiquem dentro do pentagrama já é uma baita ganho de tempo, porque para o copista dá menos trabalho – muito menos – aprender 6 claves diferentes – a de dó é móvel – mas aprender isso apenas uma vez do que passar a vida toda usando uma só clave mas gastando os dedo até o toco de tanto fazer linha suplementar. Vejam. Não estou com isso explicando como estas claves surgiram, que  isso é uma outra história, mas sim dando uma explicação sintética do porque elas se sedimentaram como símbolos, como representação pictográfica de estruturas matemáticas de organização do fenômeno sonoro em nosso cérebro; basicamente, porque claves diferentes tornam escrever e ler música mais fácil e mais rápido.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

    Senhores, Porto Alegre é uma cidade estranha. Em termos de instrução musical, existe picaretagem para todos os gostos, desde o modelo escolinha de música, onde nossas crianças e às vezes nós mesmos somos não ensinados mas adestrados para repetir as peças que o professor nos ensina - isso quando é uma peça e não algo ainda pior, como um simples trecho de música, um verdadeiro horror; crianças e jovens inteligentes e capazes sendo tratados como imbecis - até os pica fumos que não sabem o que fazer com o instrumento mas já estão ministrando aula. O que leva o picareta a gastar mais tempo construindo sua picaretagem do que estudando e realmente aprendendo alguma coisa é assunto para outra postagem. Preciso hoje escrever sobre o maior de todos eles, o picareta mor de Porto Alegre, e preciso fazer isso porque ouvi uma aula dele ontem - temos um aluno em comum que gravou uma aula com ele e mostrou-me - que me impressionou muito. 
    Já vi gente ruim e gente boa trabalhando, alguns só hoje vejo o quanto eram bons no seu trabalho, ou ruins mesmo que não sabendo que o eram. Uma vez, numa Oficina em Curitiba, isso em 1997, a Mara Campos, durante o ensaio de uma peça do Osvaldo Lacerda chamada Provérbios, parou e disse que precisava estudar a peça, pediu desculpa aos alunos presentes e passamos para outra música. A peça que ela parou porque não conseguiu ler era apenas falada, sem entonação, e o Osvaldo fez o diabo com o texto, montando uma fuga à 4 vozes apenas com a estrutura rítmica, que era bem complicado de fazer funcionar. No outro dia ela chegou no ensaio com a peça decorada, todas as vozes. Até hoje tenho isso como um exemplo duplo. Primeiro de honestidade; ela disse com todas as letras que precisava parar porque tinha que estudar, mostrando que não tinha nenhum medo, nenhum problema em admitir que não sabia, e segundo pela sua capacidade de estudo, de foco e constância, e até um terceiro exemplo, que é o de entender que moralmente seria muito útil aos seus alunos, ver que ela se esforçou além de estudar o que se propôs, e internalizou todo o conteúdo. Não tem muita coisa dela na net mas é uma ensaiadora muito capaz e com um domínio rítmico muito apurado e o gestual claro de quem tem o clic na cabeça. 
    Outra vez, num ensaio onde um jovem e inexperiente regente coral tentava fazer um Agnus Dei do Hassler - um em F Maior - funcionar, deu-se o oposto. O desgraçadinho do guri era tão ruim (mas tão ruim) que não entendia nem que na peça em questão era fundamental pensar em 2 e não em 4 como ele estava fazendo. O resultado era que a peça soava muito rápida, muito magra na sua divisão e sem o sustain que é tão característico do período. As pessoas são leigas e não se dão conta, e o regente esse, parecia também não ter a menor idéia do tamanho do erro, e testemunhei muitas apresentações dele e do seu coro cantando o Hassler errado. Houve uma ocasião em que uma regente vaio cantar com eles - ela apresentou-se com o seu coro no mesmo evento e, sabendo que o coro do regente esse cantava a peça, veio cantar junto, a coitadinha - e a expressão dela durante a execução era de desconforto extremo, como se ela dissesse, meu deus, o que foi que eu vim fazer aqui, por que isso, por que comigo? o que foi que eu fiz? O regente imbecil, este, a propósito, era eu.
   Mas eu comecei dizendo que Porto Alegre é uma cidade estranha; os picaretas da instrução musical aqui de Porto Alegre também são médiuns. Sim, senhoras e senhores, os picaretas da instrução musical aqui na capital dos gaúchos são guiados na sua forma de lecionar Música por nada mais e nada menos do que espíritos desencarnados! o professor este, figura arqui conhecida da cena, "trabalha" do seguinte modo; seus alunos mais destacados são os que conseguem imitar mais exatamente o que ele próprio faz. De fato, existem pessoas que conseguem imitar muito bem o que ouvem, e é um grande erro subestimar nossa capacidade de mimetizar o que ouvimos, mas isso, no meu entendimento, não é saber, não é aprender, não é conseguir manipular a informação, o conhecimento, os modelos técnicos, as sensações fisiológicas do processo de cantar. Sim, falo de um professor de canto. Evidentemente um professor que trabalha assim  tem todo o interesse em mostrar o canto como algo extremamente difícil, apreensível somente por meios subjetivos e que, claro, somente ele, o professor, detêm.  A Merda disso é que um jovem sem experiência de ouvir cantores e sem nenhum referencial externo realmente acredita que este falsário realmente sabe de alguma coisa além de cantar alto - na boa ele nem ao menos é um bom cantor, não tem cultura de repertório nenhuma e de maneira parecida com as bandas de música pop dos 70 e 80, vive repetindo as mesmas árias de ópera, a mesma micagem de agudos - ele chega a fazer de conta que não alcança as notas para depois canta-las na altura. Jamais, no entanto, ouvi falar de ele se envolver seriamente em nenhuma récita que não seja uma sequência de clichês. Gente assim macula a formação, o ouvido crítico de nossos jovens, gente assim é um desserviço para a formação musical de nosso estado - não é atoa que estudando com pessoas como ele, o RS conte nos dedos os cantores que são expoentes nacionais e internacionais. E, quando o cantor não consegue imitar o seu vocalize, ele para, finge ouvir uma voz de espírito - isso é serio, eu ouvi a gravação e dá pra escutar ele murmurando, falando sozinho, e diz - repetindo a opinião do espírito - que o cantor não entende o que ele ensina, que o que ele está ensinando serve para o Pavarotti, para a Callas, mas que o cantor, no caso um jovem de 22 anos, não entende. É isso, esse imbecil desconsidera o quanto o aluno leva a sério uma coisa destas, este imbecil desconsidera o quanto ele é responsável pela formação deste jovem. Gente assim não pode acontecer mais, culturalmente, pessoas assim são um tumor cultural;   Cidadão Imbecil na Décima Potência.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Resumo de aula do curso de Teoria, na Casa da Música - 3


Vamos ao resumo, então,

    Como o pessoal deve ter percebido - pelas caras no fim da aula acho que estamos mais pra sim do que pra não - consegui colocar na cachola de vocês a percepção do que é um acorde e do porque que ele faz sentido para o nosso cérebro. Já ganhamos nosso salário do dia ao conseguirmos nos movimentar pelos graus da escala - as mulheres um pouco melhor que os homens, e a ala OSPA dominando tudo; o pessoal do TOTROMVAA - Tocadores de Trombone de Vara Autônomos - está organizando uma revanche para a próxima aula. 

    Não tem truque nem mistério; a prática diaria de pensar os graus e praticar o acesso consecutivo e aleatório é uma baita exercício, lembrando que em 1º lugar, sempre, uma divisão por quatro, para qualquer pulsação que vocês usem pra exercitar a voz. Não sabermos o tamanho da nossa articulação mínima é fazer de conta que estamos estudando, e somos pessoas decididas, que se reunem no meio da semana, no meio da tarde, querendo uma relação mais seria e não mais lúdica. Aliás, até isso já é um troço meio estranho pra mim; por que que estudar, por que que uma visão intelectualizada do fazer musical tem que sempre carregar este estigma ruim de chato, de bossal, de pretensioso?
     Vejam o nosso caso, nunca tratamos nenhum conteúdo por sua matriz emocional, nunca abordamos nenhum único conteúdo usando qualquer tipo explicação subjetiva. Tratamos os conteúdos como se fôssemos ets que vieram para a Terra estudar o FENÔMENO da música, e somente por suas propriedades Físicas e os meios também físicos, de precisão e de equilíbrio, de entonação, e mesmo assim aparentamos estar nos divertindo muito durante o processo. Quero que vocês comecem a dividir comigo a responsabilidade de mostrar para as pessoas que não somente Teoria da Música é uma matéria interessante e instigadora quanto que ela é parte inseparavel do fazer musical, assim como saber o significado das palavras que usamos não é saber a Teoria da língua mas objetivamente saber 'a' língua. 
     Depois de alguns minutos de prática rítmica, em 2, em 3, e em 4, pelo menos, pratique o começo da escala Maior e o começo da Menor, e não subestimem os seus ouvidos; decorar o acesso aleatório das escalas - lembram que falei sobre decorar a melodia e ser capaz de acessar qualquer pedaço dela, algo que vocês já fizeram com muitissíssimas músicas que decoraram - é algo que se desenvolve em algumas semanas de prática, e já começar praticando a percepção das diferenças entre os dois modos é investimento pesado na capacitação do ouvido de vocês.
     Em relação aos acordes, demos passos importantes hoje, não somente porque sedimentamos mais um pouco a percepção de que o acorde é um fenômeno acústico mas também de que em termos de tonalidade, o acorde perfeito é formado por 3 sons somente. Dado o resultado de batimentos - soma das frequências - descobrimos que não é possível combinar mais de 3 graus de uma escala dada qualquer; esse fenômeno, certamente já conhecido desde a pré história, não foi usado desde sempre mas foi aos poucos sendo reconhecido e aceito até se impor, sobretudo aos ouvidos do mundo ocidental, como o tripé matemático sobre o qual organizamos a educação e formatação tonal de nosso ouvido. 
     Pra hoje não precisa mais, creio. Salientando que ao empilhar graus de uma escala dada alguns graus tem afinidade com outros graus; graus vizinhos batem muito as frequências, mesmo que em 8º diferentes, e esses batimentos irregulares nos dão a sensação de instabilidade, os graus mais distantes da tônica - este é outro nome para o 1º grau, os graus 4º e o 5º, são os mais estáveis - claro, por estarem longe - o batimento é numa velocidade muito diferente da tônica e para o nosso ouvido esse fenômeno soa regular, estável. Semana que vem solfejo ritmico, cantado e ainda vou começar oficialmente o conteúdo dos acordes. 
     Outra maneira de divulgar o blog; estou postando os resumos lá e vocês podem indicar o blog para quem quiser ler os resumos ou se informar mais sobre o Processo.
     Forte abraço e até quarta. Continuo esperando o email do pessoal da recuperação.    


Obrigado pelo privilégio, maior a cada dia, de dividir com vocês o pouco que sei.

Sérgio

terça-feira, 17 de abril de 2012

Resumo da primeira aula do curso de Teoria, na Casa da Música - 2

Vamos lá 




    A parte dos acordes primeiro. Para mostrar acordes - que em sua concepção mais genérica são formados por 3 ou mais sons - precisamos antes saber montar escalas, e não tem reza e nem santo que te ajude nisso, tem que exercitar portanto não venha com essa história de ficar triste porque não entendeu os acordes; nem fizemos exercícios deles ainda, ora! estou brincando mas tem um fundo de verdade, e o que falei sobre acordes foi com a intenção de fazer uma primeira abordagem do tema e não de realmente esgotar a matéria. Na próxima aula o conteúdo será dissecado, e claro, estou imaginando que o povo está lendo o polígrafo. 
    Bom, repassando, sabemos que as escalas mais usadas são a Maior e a Menor - a Pentatônica, aquela de cinco graus vai entrar mais adiante - cada uma formada por uma padrão misto de tom e semitom entre os seus graus, certo? Estou falando só da Maior e da Menor, não esqueçam. Vamos pensar um pouco; sabemos que uma escala é uma coleção de graus do cromatismo, coleção esta que montamos a partir do padrão de distância que estabelecermos entre estes graus. Em uma escala por tons, por exemplo, usamos um único padrão de distância, que foi o Tom, por isso o nome da escala, entenderam? (!) quando depois estudamos as escalas Maiores, vimos que o padrão pode ser misto, e tanto é assim que é na escala Maior que encontramos semitons entre o 3º e o 4º e entre o 7º e o 8º graus. Padrão misto, taí, ó! tô falando que tem! 
    Na escala Menor também encontramos semitons em 2 lugares, só que não nos mesmos que na escala Maior, lembram? na Menor os semitons estão entre o 2 e o 3º e entre o 5º e o 6º, mas isto todo mundo já aprendeu á muitos séculos atrás, na aula retrasada. 
     Bom, de novidade mesmo, o que tivemos na última aula foi descobrir que não é só no papel que a matemática das escalas funciona; nosso ouvido - entenda-se cérebro - desenvolveu outras maneiras de calcular, e é dessa outra forma que nossa mente organiza e calcula nossa percepção tonal; aquilo que vulgarmente chamamos de capacidade musical. O termo é uma bobagem biológica mas abordo isso em um outro texto. Vimos que o lugar, a nota, o grau que escolhemos como primeiro sempre é o que sonoramente mais atrai nosso ouvido, e para provar isto basta tocar a escala em questão em qualquer instrumento e fica claro, mesmo em crianças menores de 10 anos - pela minha experiência, pelo menos - que as pessoas sabem qual é a nota mais fundamental, aquela que para nosso ouvido resolve a escala, e que é a mesma que para nossa matemática, para nossa lógica da música é o primeiro grau! Vejam que coisa fantástica, mesmo antes de aprender a calcular no papel, nosso cérebro já calcula - com resultados auditivos e não notacionais - nos informando onde é que começa e onde é que termina o padrão de distâncias; isso para mim é algo assombroso. 
    Vocês, com o decorrer do curso e o incremento da capacidade de interagir com os conteúdos, verão que muitas coisas, que muitos fenômenos que iremos estudar e sobre os quais faremos experiências são sensações já familiares a cada um; muitos de vocês já 'ouvem' acordes, trechos de escalas e dissonâncias - acontece até de não se gostar de determinado fenômeno, é muito comum ouvir gente dizendo que não gosta de dissonância, por exemplo - muitos de vocês irão apenas dar nomes e aprender a calcular notacionalmente com fenômenos que já conhecem e reconhecem quando escutam, mesmo não sendo capazes ainda de os nomear e conceituar. É legal ser humano, né?
    Pois é, nosso ouvido nos ajuda a entender o fenômeno sonoro nos mostrando marcas sonoras de atração para cada grau. ja sabemos que o primeiro é o mais fortão de todos, ele é o grau que sempre puxa, feito um ímã sonoro não importando em que grau nós estejamos. O primeiro grau é o mais poderoso de todos os 7. E será deste primeiro grau, do suporte tonal que ele dá ao nosso ouvido que começaremos a encontrar, a desenvolver e praticar, calcular mesmo, todos os outros 6. 

    Não se esqueçam de ler os textos. É uma maneira simples de vocês se inteirarem com o que estamos fazendo no Processo - além de uma mãozona para nos ajudar a crescer. Nossa missão é propor um modelo de aprendizado de música que seja rápido e pleno, sem estilos e nem esoterismo de nenhum tipo, sem aquela conversa de talento e dom. Sem a separação entre cantor e musicista, sem separação entre erudito e popular. Apenas música.

Forte abraço é obrigado por me permitir dividir com vocês o pouco que sei.


Sérgio Nardes

Resumo da primeira aula do curso de Teoria, na Casa da Música - 1


 Olá, pessoas!Vamos ao resumão.

    Aprendemos que nada no universo é mais importante que o ritmo. Nenhuma, absolutamente nenhuma instrução em música pode começar por outro tópico que não esse, sob o risco de ser um aprendizado apenas escrito ou abstrato mas de modo algum execucional; fazer música é fenomenologicamente, cronologicamente prioritariamente, organizar padrões de som - seja lá de que tipo, notas, palmas, tambor ou tampinhas de garrafa, não importa; "Muitos povos desconhecem a harmonia e os acordes, alguns não possuem nem sequer melodia, mas não existe povo, não existe cultura musical alguma que desconheça o ritmo". Nosso estudo do ritmo começa com exercícios de conscientização dos padrões matemáticos que o organizam, e o tema de casa é macerarmos o nosso pé de chinelo em padrões decrescentes, começando em 8 em cada mão, depois 7 e assim até chegarmos no 1 contra 1. Cuidado para não cometer o erro crasso de diminuir a velocidade das batidas conforme a quantidade delas diminui; o correto é apenas tirar, a cada mudança, uma das batidas, mas sempre com o mesmo andamento. Inverter a ordem do exercício e começar com 1 contra 1 e aumentar as batidas também é um exercício válido.

     Na parte da lógica, aprendemos que o som é formado de vibrações por segundo, vibração esta que vem de algum atrito, de algum contato mecânico entre dois objetos, ou ao menos pela pressão pneumática - de ar - sobre algum objeto. Este é o caso de nossas pregas vocais, por exemplo; quem 'toca' nelas não é uma coisa sólida mas sim o ar de nosso pulmão sendo empurrado, sob pressão de nossa musculatura diafragmática, literalmente, goela acima! o ar faz a prega vocal vibrar - se ela não estivesse presa sairia boca afora e seria um grande problema - e a vibração desloca moléculas de ar que deslocam outras moléculas de ar que por sua vez também deslocam mais outras moléculas de ar, até que este deslocamento de ar - entenda-se o ar feito de moléculas, né? -  chega nas moléculas que estão dentro do nosso ouvidinho, e se a fonte produtora for uma voz bonita, ficamos felizes. Se for uma voz de gralha como a minha, paciência, e pelo preço que está saindo, não reclamem, ora! Podemos medir as frequências pela velocidade de sua vibração, então quanto mais rápida a vibração, mais agudo será o som que ouviremos, e do contrário, quanto mais lenta for a vibração, mais grave o som. Lembrem  que nosso ouvido associa baixas frequências com sons esfarelados, rugosos, e algumas são tão lentas que podemos até contar quantas estamos ouvindo por segundo. Já as agudas são mais rápidas, e aos nossos ouvidos soam como lisas - como a Elisa no andar de cima! Aprendemos que uma vibração resulta na mesma nota se dobrarmos ou dividirmos ela ao meio. Por exemplo, LA é 440 vibrações por segundo, então o 220 será LA também, e o 110, e o 880 e assim por diante e para trás. É com essas referências de medida que começamos a montar o nosso cromatismo, lembram? a quantidade de partes em que dividimos a distância entre essa relação dobro/metade é algo que nosso cérebro constrói muito cedo em nossa vida, por isso que os indianos acham que temos poucas notas dentro de nosso cromatismo e os chineses acham que temos notas demais. A música ocidental, em parte por causa da Renascença e em parte por causa de uma herança da concepção escalar que o cristianismo nos deixou por meio da música litúrgica dos judeus - sim, o troço aqui fica meio complicado mesmo por isso já parei - acabou por nos cristalizar um cromatismo de 12 partes. Mas não vamos ficar tristes, que podemos fazer o diabo com essas 12, inclusive deliberadamente ignora-las, mas vamos caminhar primeiro, né? depois corremos...12 partes e tá tri bom por enquanto.

     Essas 12 notas em que partimos nosso cromatismo constituem nossos tijolinhos com os quais construímos tudo em Música, de Monteverdi passando por Bach até o funk carioca - ficaremos de cabelo em pé com a diversidade de coisa que podemos fazer com essa dúzia de tijolos. Portanto DECOREM ESTA TABELA DO CROMATISMO, para ontem, viu? são 12 notas, algums com 2 nomes, mas apenas 12.
    Para nos movermos dentro desta tabela, para que possamos fazer coisas legais com ela, precisamos usar algumas ferramentas, operadores como chamamos em nosso polígrafo, lembram? O primeiro operador é o de distância. Como é que vamos nos mover dentro desta tabela sem saber o quanto? se eu andar pra a casa do lado, aquela que está bem grudada na casinha onde eu estiver, eu digo que me movi um semitom, lembram do conceito? semitom é a menor distância possível entre 2 notas. casinha do lado! Mas posso também dar um passito maior e pular uma casa, daí tenho um tom de distância. O conceito é; tom é a menor distância possível entre 2 notas aceitando, porém, 1 e somente 1 nota intermediária. O tom pula 1 casa, só isso. O outro operador que usamos é o de sentido;  tom e semitom me dizem o quanto que eu ando, 1 casinha para o lado ou 2 casinhas, onde eu pulo 1 casa. Mas como é que eu decido para que lado eu vou ,ein?? posso ir para a esquerda, para o grave mas também posso ir para a direita, para o agudo. Como decidir, meu deus? simples;
o # - sustenido, não é jogo da velha, parem com isso - o sustenido é o sinal que eleva a altura da nota em um semitom. Não importa onde eu esteja, botei um sustenido na nota e ela imediatamente sobe 1 casinha PARA A DIREITA, PARA O AGUDO!
    Quando, porém, entretanto, outrossim, coloco um bemol - representado pela letra 'b' escrita em minúscula -  a nota desce a altura em um semitom. Tu viu que o sustenido e o bemol, que esses 2 operadores trabalham sempre com a distância de um semitom? guarda isso aí dentro que pode ser útil depois.
   Sabedores que somos dessas informações vamos adentrar no maravilhoso mundo das escalas. Mas o que é uma escala, caro leitor? Bom, lembra do cromatismo? vamos definir uma escala pelas propriedades mínimas que ela precisa ter.
    Primeiro, é do cromatismo, dos tijolinhos - entenda-se notas - que o cromatismo tem é que tiramos a nossa escala, portanto, podemos afirmar que uma escala é uma coleção de notas do cromatismo, simples assim. O cromatismo nos dá a materia prima para construir escalas; todas as que possamos imaginar e inventar, sempre, serão construídas usando  as notas do nosso cromatismo. Legal, já temos uma propriedade mínima para saber se um conjunto qualquer de notinhas que ouçamos ou toquemos ou escrevemos é ou não uma escala, mas tem outra propriedade que precisamos ter para realmente possuirmos uma escala que nos sirva pra fazer música; ELA TEM QUE COMEÇAR E TERMINAR NA MESMA NOTA. Não vamos nos confundir, pera aí! não é beeem a mesma nota, nós já sabemos disso, e o modo mais correto, mais preciso de definir esta propriedade é dizer que uma escala é uma coleção de graus do cromatismo entre uma nota qualquer que escolhermos e o seu dobro/metade de vibrações.
     Lembram do que vimos na aula? eu parti nota dó e fui subindo, para o agudo, para a direita no cromatismo, sempre me movendo um tom, foi ou não foi? pois então, se esse padrão de distância entre os graus terminar na mesma nota em que começou, isso resulta que nossa escala é perfeita. Ou  esqueceste que eu acabei de dizer que uma escala tem que começar e terminar na mesma nota? se eu começar em dó e me mover um tom de cada vez vai ficar assim: 

 dó -re - mi- fa# - sol# - la# - dó 

entendeu? então pensa comigo; se eu mudar o padrão de distância entre os graus vou ter diferentes tipos de escala. Olha o que acontece se eu andar sempre um tom e um semitom de cada vez - dá pra pensar que pulamos 2 casas, mas eu nã penso assim, não - se eu andar um tom e um semitom, fica desse jeito a minha escala;
 do - mib - fa# - la - do
 chamamos essa escala de diminuta. Mais adiante vamos enteder o que significa diminuto em linguagem musical, espera só.
 Para dominarmos as fórmulas, e também porque essa escala é muito usada em música, tipo, muito mesmo, a próxima escala que iremos fazer é a Maior - dizemos escala Maior. Esta escala está descrita bem detalhadamente no polígrafo, na próxima aula vemos o que resultou a explicação de aula mais a leitura do polígrafo.
 Forte abraço a todos; é um privilégio dividir com vocês o pouco que sei.

 Sérgio Nardes